Galeria Vzigalica, Liubliana,
20 de Março de 2009.
Este seminário insere-se no projecto mais vasto, re.act feminism, que visa apresentar ao público um arquivo de vídeo com mais de oitenta peças de performance, desde a década de 60 e 70 até aos nossos dias, principalmente filmadas na Europa de Leste. Entre os trabalhos documentados dos pioneiros da performance, como Faith Wilding, Abramovic ou Valie Export, assinale-se uma forte e bem marcada presença de artistas da Europa de Leste, como Sanja Ivekovic, Natália LL e Ewa Partum, assim como alguns exemplos da produção mais recente de Boryana Rossa, Tanja Ostojic e Alketa Xhafa Mripa, assim como de Lilibeth Cuenca.
Bettina Knaup, uma das comissárias da exposição, considera que a história da performance, enquanto arte-em-processo, foi muito influenciada por mulheres desde o seu início, na década de 60, tendo ainda, claramente, precursores e raízes em outros movimentos do século XX. A tentativa aqui presente consiste em ir além do cânone patente nas performances geralmente conhecidas, aquelas peças icónicas que figuram nos manuais, alargando assim horizontes através da inclusão de artistas não oriundos das capitais do modernismo, embora igualmente provenientes dos chamados primeiro e segundo mundos, deixando ainda todo o Sul de fora. A história ainda não chegou ao fim.
A historiadora de arte e comissária Angelika Richter fez uma breve apresentação da situação política e cultural da Alemanha de Leste, antes da queda do Muro, considerando que esta deve ser tida em conta quando se pensa nas artes visuais e especialmente na obra de algumas mulheres artistas daquele período: “Todos os artistas tinham um inimigo comum, que era o Estado. A emancipação da mulher era um tema secundário. O principal objectivo consistia em libertar o género humano em geral”.
Dubravka Djuric, escritora, professora universitária e co-fundadora da revista ProFemina não pôde participar pessoalmente no seminário, pelo que a sua comunicação foi apresentada pela artista Lana Zdravkovic /KITSCH. Esta debruçou-se sobre a (im)possibilidade de uma compreensão (ou leitura) universal da arte da Europa de Leste, por oposição à arte ocidental, dando exemplos colhidos nas obras de Abramovic, Ladik e Delimar, da antiga Jugoslávia.
A última comunicação foi apresentada por Barbara Borcic do SCCA, de Liubliana, que efectuou uma apresentação geral do acervo, abordando a questão do arquivo e o problema do arquivamento de obras de vídeo ou de outros documentos filmados de arte ao vivo, como a performance.
Um dos eventos paralelos à exposição foi a projecção da performance-video de Lana Zdravkovic /KITSCH, intitulada: How she enjoys: Naked Reading of Lacan. O vídeo constitui uma reflexão acerca do prazer (sexual) feminino, tal como este é interpretado pela psicanálise lacaniana. O autor surge no vídeo a ler o texto de Lacan Mais, abordando problemas políticos contemporâneos através do fenómeno do prazer, não apenas no que diz respeito à condição da mulher, mas sobretudo assinalando o crescente chauvinismo e machismo disseminados na sociedade como um todo, através da cultura (pop), da arte, da ciência e da economia. As filosofias políticas de Balibar, Rancière e Badiou fundamentam a acusação de que as sociedades ditas democráticas caem facilmente nas profundezas do chauvinismo, racismo e nacionalismo. Assim, Zdravkovic pensa que a luta permanente pela igualdade dos sexos não constitui apenas uma reivindicação feminista, inscrevendo-se numa irredutível exigência de igualdade, não só no que diz respeito ao sexo, mas também à nacionalidade, etnicidade, raça e cultura. Assim, o carácter explícito da imagem (da vagina) nesta peça não se oferece como uma metáfora estética, sendo antes empregue como um símbolo emancipatório. Esta peça pode assim ser lida como uma reivindicação radical de igualdade.
Assinale-se ainda que, simultaneamente, um outro lacaniano, de origem eslovena, está a organizar o Colóquio Sobre a Ideia de Comunismo, no Birbeck Instute for Humanities, em Londres (que se encontra completamente cheio).
A exposição re.act feminism, constitui um evento prévio integrado na programação do festival City of Women de Liubliana. Esta mostra foi inaugurada em Dezembro, em Berlim e encontra-se actualmente em viagem pela Europa.
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