Akram Zaatari: This Day
Mala galerija, Liubliana
1 de Março a 10 de Abril 2011
Curadora convidada: Galit Eilat
Num momento em que estamos a assistir às mudanças radicais nas sociedades do Norte da África, arrastando-se pelo todo o Médio Oriente e com possíveis repercussões nas outras partes do mundo face à democracia, a Mala galerija em Liubliana apresenta o projecto do artista líbanes Akram Zaatari apropriadamente chamado This Day.
Trata-se do presente, sem esquecer o passado bifurcante desde os anos cinquenta do século vinte, tal é o time-span do projecto, com o futuro imprevisível e em perfeita sintónia com as incertezas da própria situação politica de Líbano que assistiu a uma revolução recente, nomeadamente em 2005 ou pouco antes da última invasão dos israelitas em Junho de 2006.
Akram Zaatari é um artista, realizador e curador baseado em Beirute. Junto com o Walid Raad ele foi um dos fundadores da Arab Image Foundation, uma instituição muito viva dedicada à preservação e à disseminação das imagens do Médio Oriente com base em Beirute, uma das mais vibrantes capitais de arte de nossos tempos.
O This Day é um ongoing research project onde o artista procura investigar os mais variados documentos que testemunham a actual situação cultural e política de Líbano. A curadora convidada Galit Eilat(Israel) , uma passageira frequente no voo de Tel Aviv com o destino Liubliana, fala de uma aproximação aos metodos arqueológicos na maneira como o artista revela devagar as camadas intimas da História contidas nas experiências do quotidiano de um território sujeito à constantes invasões e retiradas militares.
Voltando para o This Day; a instalação ocupa uma sala inteira no espaço adjacente da Moderna galerija, a principal instituição eslovena para arte contemporânea, dedicado aos projectos de natureza mais experimental. Fica numa das avenidas que atravessam o centro da cidade, rodeado pelas lojas, algumas delas ainda dos tempos do socialismo, sem nós percebermos sequer que estamos a entrar num espaço de arte.
O projecto de Akram Zaatari é dividido em várias partes ou podia-se dizer capítulos, já que as últimas revoluções atravessando o mundo árabe devolveram a primazia às palavras enquanto as imagens, sendo poucas e não representativas da realidade em transformação súbita ficaram por trás.
Em fim, acabando com os regimes autocratas de vez.
Portanto, à semelhança dos acontecimentos actuais, o artwork é constituido por seguintes elementos de maneira democrática: The Desert Panorama, um estudo da colecção de fotografias do deserto da Síria, tiradas nos anos cinquenta do século passado por historiador sírio Jibrail Jabbur e o fotografo Manoug de origem armeno-libanêsa; e Recordings, uma colecção de documentos e das fotografias do próprio artista que têm a ver com a invasão dos israelitas em 1982, este último subdividido em ciclo Learning Photography e o vídeo Saida 6. 6. 1982.
Especial destaque merecem sem dúvida as fotografias da série Learning Photography, tiradas pelo Zaatari em 1982 aos 16 anos enquanto observava os bombardeamentos da sua cidade pela varanda da sua casa em tempo real. As fotografias foram ampliadas em 2002 numa escala grande, mas mantêm a intimidade que as liga à outra época, como também a estranheza de ver na mesma série as imagens dos membros da sua familia que parecem ser tiradas de um Foto Album, a natureza morta dos cactos na sala de estar e as mais directas imagens do ataque aéreo e terrestre. Algumas imagens até parecem algo que não são, por exemplo a sua qualidade instantânea faz lembrar à obra do Gordon Matta-Clark e os seus cortes nos prédios nova-iorquinos nos anos setenta ou à qualquer imagem foto-journalística recente e estilizada, de composição perfeita, como se negando a existência da guerra.
As fotografias constituindo a série Learning Photography igualmente remetem para a a série We decided to let them say, “we are convinced, “ twice(2002) de Walid Raad, que forma um dos núcleos importantes do projecto The Atlas Group(1989-2004) , uma investigação na História contemporânea do Líbano com ênfase especial nas guerras de 1975 a 1990.
Aqui o Raad tirou as fotografias da mesma invasão israelita em 1982 na parte ocidental de Beirute só para poder amplia-las em 2002 àpos um olhar crítico para os negativos novamente, desta vez mais consciente do seu impacto, mesmo este sendo fugaz.
Ao mesmo tempo ele está claramente a desafiar as nossas noções da História.
Em termos formais as imagens do Raad e do Zaatari são parecidas, mesmo umas sendo à preto e branco e outras à cores, ambas contêm os riscos indeleveis, como se as explosões transformassem em pô ao longo da História, deixando as marcas gravadas na pelicula.
Nas palavras do Raad: “Eu tinha 15 anos em 1982 e queria estar tão perto dos acontecimentos quanto possível, ou tanto quanto a minha máquina e as lentes acabadas de comprar o permitissem. Claramente, não suficiantemente perto. “
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